Primeiros passos, e olho pra cima. O prédio é alto, feito com tijolos e cheio de janelinhas. Observo algumas pessoas na frente. Devem estar falando das férias, do saco de ser segunda-feira, ou daquela menina ou menino que acabou de observar. Entro pela porta grande de madeira, empurrada pelo porteiro que nem ao menos sei o nome, que simplesmente dou "Boa Tarde" todos os dias que o vejo. Ao entrar no local, sinto uma certa angústia, solidão e medo de encarar as coisas novas. Descobri que estas coisas novas não me agradam tanto, mas confeço que suplico por elas. Vou seguindo a rampa que está no lugar das escadas, o que torna a subida mais cansativa. Entro na modesta biblioteca com portas de vidros e observo muitas pessoas conversando nas mesas. Perai! Isso é uma biblioteca! Existem vários cartazes pedindo silêncio. Mas isso não importava pra ninguém na hora. Sento em uma dessas mesas, sozinha. Abro minha bolsa nova que comprei pela manhã, e sinto aquele cheio de tecido novo. Abro o meu estojo, e encontro os mesmos lápis e canetas do semestre que passou. Nessa hora, dei um sorriso, e comecei a sentir um Dèja Vu na minha cabeça... Realmente aquilo já tinha acontecido várias vezes, mas não me lembro específicamente como. De repente, um barulho, era o sinal, parecido com um carro de bombeiro, só que numa velocidade bem mais rápida. A tensão. Senti como se eu nunca tivesse pisado naquele lugar, como se aquilo tudo fosse novo para mim. Oras, Simone, você já tem 21 anos! Vamos! O seu papel aqui é se comunicar, até que alguém prove ao contrário. Tudo bem, tudo bem. Me levanto calmamente, e sigo pela porta de vidro que havia entrado a pouco tempo. Pensa, pensa, qual era a sala mesmo que a mulher do telefone falou? Ah, sala 07. Esta, ao lado da sala dos professores. Hm... as carteiras são novas. Não têm mais estofado azul, agora é o vermelho. Se bem que os azuis deixam o ambiente mais amêno na sala. Mas o vermelho está bom. Sento na sétima cadeira que olho. Acho que aqui está bom, é um lugar mais centralizado, dá para conversar com várias pessoas da sala, me enturmar. Preciso estar atenta aos nerds, estes sim são precisos em lugares mais próximos. Começam a entrar os alunos. São todos bem mais novos que eu, acho que uns seis, sete ou mais anos. Alguns aparentam ser mais velhos, outros mais novos. Há um japonês logo ali. Hm... confio em orientais do sexo masculino. Por que as do sexo feminino não são tão espertas assim, e eu sou prova viva disso. Ah, conheço uma aluna aqui. Que bom, assim não fico tão acanhada. Entra a professora. Ela é ruiva, loira, não me lembro bem. Ah, não é estrangeira. Ainda bem. Sempre me perco com o sotaque destes professores importados. A aula corre muito bem. Apredi formas e verbos novos. Alguns são meio complicados, difícieis de entender, que eu tenho certeza que eu nunca vou usar. Toca novamente aquele sinal escandaloso. Saio da sala com uma sensação estranha novamente. Eu já tinha visto isso tudo, e sentido a mesma coisa. Entro no carro, conecto a chave, paro e penso. Sim, entendo este dia. Este é mais um dia pra minha vida inteira.
02/02/1993 - Primeiro dia da minha vida inteira.
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