quarta-feira, 27 de março de 2013

Por una cabeza.. - Argentina, Buenos Aires


Em meio à região dos pampas se encontra Buenos Aires, a terra do Tango que muitos ‘gringos’ acham ser a capital do Brasil – falo muito sério. Mas deixando informações históricas de lado, posso dizer com o coração aberto que esta cidade me conquistou de todas as formas. Jamais imaginei que encontraria tudo que mais gosto num só lugar – a arquitetura europeia com o calor latino.

carlos gardel - a voz da argentina

Eu e uma amiga, a Taiane, chegamos de ônibus na rodoviária Retiro. Depois de quase 18 horas de viagem de Porto Alegre (onde estou morando agora, mas isso é uma outra história) através do FlechaBus. Super confortável, com direito até a uma bandejinha de lanches – coisa que nem o avião da Gol oferece!

Nossa primeira impressão foi o transporte público, como o metrô, um dos mais antigos do mundo. E bota antigo nisso! Pelas condições, acho que nunca recebeu uma reforma depois de pronto. Porém, a passagem era bem barata, apenas $2,50. E como o real vale $3 pesos, deu para esbanjar não só com isso, mas com muitas outras coisas.

Ficamos no hostel Terrazas Estoril e dividimos o quarto de seis pessoas. Apesar do australiano (temos problemas com esta nacionalidade) fedido que estava dormindo na mesma beliche que eu, o lugar é bem limpo e organizado. Ele se localiza do alto de um prédio na Av. de Mayo, uma das principais de Buenos Aires. De lá dá para se ter uma boa visão da cidade e também, sem contar no preço que é bem em conta!

 Primeiros passos, tempo, roupas e churrasco

O dia estava ensolarado com um vento gostoso – nada do que pesquisei na previsão do tempo do Google. O traidor (e também a Nataly!) me fez trazer muitas roupas de inverno, inclusive botas e um casacão que usava em dias quase intensos. Sorte que tinha um micro short, próprio para usar com meias, mas que me quebrou o galho até então.


Rua próxima ao hostel

Demos um ‘look around’ rápido pelas redondezas. Visitamos o obelisco, andamos pela Av. 9 de Julio e tiramos algumas fotinhas sem maiores produções. O lugar onde estávamos era bem no centrão, lugar onde tudo e mais um pouco aconteceu. Os prédios, as calçadas e os monumentos escreviam em partes a construção da ‘Europa na América Latina’. Simplesmente encantador!

Vista do saguão do hostel

Uma salinha qualquer no saguão do hostel
Av. 9 de Julio com a imagem da Evita em destaque

Depois desta pequena caminhada, voltamos para o hostel. À noite eles ofereceram churrasco típico de lá, com ‘chorizo’, que seria um pão com carne. A comida é boa, mas nada se compara ao brasileiro – claro!

Conhecemos algumas pessoas de várias partes do país, como americanos, escoceses, alemães, entre outros. O bom disso é que pude desenferrujar meu inglês, que já estava em desuso há tempos.
A noite acabou forrada de cerveja Quilmes e depois com a minha bela e deliciosa Guinnes, em um pub Irish que tinha ao lado. Tudo bem divertido!

Ressaca, tour, tango, mais roupas e micos

Apesar da ressaca, acordamos cedo para aproveitar o café da manhã. Uma coisa simples, com ‘meia luna’ (uma espécia de croassant doce), suco, manteiga e geléia. Tudo certo, se não fosse oferecido todos os santos dias. Mas ok!

Um guia turístico passou para oferecer uma caminhada grátis pela cidade. Topamos na hora e fizemos o mesmo trajeto que antes, mas com direito a informações extras. Foi tudo bem interessante, pois percebi que a população argentina faz questão de lembrar até pessoas que não tiveram grande destaque nas revoluções, mas que fizeram parte de tais acontecimentos históricos.

Visitamos a catedral onde o atual Papa Frascisco rezou por muitas vezes. O engraçado é que o lugar se parece com tudo – um teatro, uma faculdade ou até uma loja de departamentos de luxo, mas nunca uma catedral. E falando no pontífice, sim! Tinha muitos cartazes, revistas, outdoors, etc, etc, etc, em homenagem a ele. Mas como disse minha querida presidenta Dilma, ‘o papa é argentino, mas deus é brasileiro’ ;)

Catedral que parece com tudo, menos com uma catedral

No interior do antigo lugar onde o papa rezava missas
Olha o papa ai, gente!

Depois de andar por alguns lugares, paramos na Casa Rosada, que fica ao lado da Catedral. Lá é o Palácio do Governo, onde também é local de diversos protestos – inclusive, neste mesmo dia vi uns dois pelas ruas. Depois das histórias, a partir de lá a caminhada seria paga. E para quem ficar na dúvida quando tiver na mesma situação, o meu conselho é que pague os 30 reais que seja, pois vale muito a pena. Conhecemos boa parte da história nos lugares reais, onde tudo aconteceu. Foi ótimo!

casa rosada


Fomos no museu onde funcionava o ‘escritório’ de Eva Perón. Lá se encontra diversos recortes de jornais, revistas, livros, entre outras coisas. O lugar pode não ter muitas coisas, mas dá para sentir um pouco da energia do passado e de como esta mulher, ao lado do marido presidente, mobilizou multidões em busca de mais igualdade social no país. Apesar das controvérsias que existiam na minha cabeça, vi que em meio às circunstâncias, o peronismo foi de extrema importância para a economia politica da Argentina. Não é a toa que até hoje eles usam esta vertente como referência, antes de eleger alguém para representa-los nos próximos anos.

recortes de jornais da época

sede do partido peronista. Eu fui e participei! rs

Visitamos os lugares onde imigrantes de várias nacionalidades europeias se instalaram depois da primeira guerra mundial. Os lugares eram tipo cortiços, que atualmente funcionam feirinhas de quinquilharias e artesanatos. Tudo ok, até descobrirmos que foi onde o tango nasceu, através de diversas culturas, movimentos e nacionalidades. Curioso saber que aqueles passos milimétricamente dados foram inventados de um tudo para se tornar tão perfeitos e cativantes.

Sentindo o tango no ar

detalhe da pia de azulejos

No final, fomos a um barzinho localizado não muito longe de lá. Tomamos algumas canecas de cerveja e comemos um big lanche por poucos pesos. Além disso, houve uma apresentação de tango com um casal que estava dançando na praça, em frente ao bar. Fiquei impressionada com os movimentos e até gravei um trechinho para publicar aqui. Só sei que no final fiquei toda apaixonada pelo dançarino <3 p="">

Ele sorriu pra mim!

Galerinha do tour!
rapaz tomando um sol

Moço vendendo coisinhas na pracinha
Depois de tudo, fomos convidadas pelo guia para um lugar com vinho, comidas típicas argentinas e tango. Fiquei bem empolgada, pois estava doida para uma noite típica! Depois que chegamos no hostel, me produzi com direito a muito luxo. Coloquei um vestido preto, com uma meia-calça da mesma cor, além de um lenço de oncinha para completar o meu visu de ‘noite em um restaurante chique’. Mas para o meu desespero, quando chegamos, vimos que o lugar era uma escolinha de espanhol com grupinhos de alunos de várias nacionalidades, vestidos praticamente com roupas de casa, churrasco, vinho barato e voz com violão. Queria morrer...

Mas apesar do mico, conheci pessoas legais e me distrai com a apresentação. Depois desta reuniãozinha, ganhamos uma ‘entrada’, que até então era grátis, para uma casa de música latina. Apesar de não gostar muito do estilo, decidi ir pelas pessoas. Chegando lá, vimos que o ‘passe-livre’ custava $30 pesos que não tínhamos. Tivemos que ir embora sem dar tchau para ninguém e decepcionadas com a noite. Mas valeu!

ainda bem que meu modelito luxo não aparece tanto nesta foto...


Ricolleta, flores, lojas e Nataly

O dia foi especial com a Nataly! Depois de alguns meses sem vê-la, o encontro foi muito bom, obrigada! Tudo com direito a papos insanos e muitas risadas.

caminhadinha!

Demos uma andada pela região Ricolleta. Lá sim tem muitas roupas bacanas, diferente das outras partes que só oferecem ‘moda Machu Picchu’ nas lojas. Porém, como já estávamos quase no final da viagem, achei que seria desperdício me preocupar com isso. Tive que me virar com as roupas que trouxe na mala mesmo.

Passamos o dia no parque Rosedal. Apesar de estarmos no outono, deu para tirar algumas fotinhas com flores em volta. Tudo tranquilo e sereno.

flores!

lago do parque

À noite decidimos ir a um barzinho nas redondezas. Tomamos cerveja através de um pote de suco. Delicioso! Mas a noite foi um pouco parada, só com mesa, boa música e papos. Nada demais.

Caminito, Cores, Al Pacino, mais tango e Guillermo

Mais um dia de caminhada, com a diferença de que havia multidões nas ruas. O dia era histórico, no qual comemorava 37 anos do fim do golpe militar. Interessante ver o quanto a população argentina é realmente envolvida com a política no país.

Protestos pelas principais ruas de Buenos Aires
da janela do hostel. Manifestações a cada esquina
As passeatas foram regadas com muita música, bandeiras, gritos e protestos. Foi lindo ver a mobilização do povo numa data tão importante, em memória dos que morreram pela pátria. Sim, nós brasileiros deveríamos aprender mais com os hermanos.

Apesar das passeatas, decidimos completar nossa rota turística. Sem querer desmerece-los, mas tínhamos pouco tempo para pesquisar quais frentes acompanhar e também de conhecer tudo que estava acontecendo em poucas horas. Tivemos que ir de acordo com o roteiro, que dava de encontro com o Caminito.

Agora sim descobri porque o antigo barzinho de Cuiabá se chamava Caminito. O lugar é uma região pobre de Buenos Aires, mas que possui muita beleza, cultura e cores pelas ruas. Apesar dos cuidados que tivemos que ter, tudo foi muito tranquilo e gostoso.

Numa esquina do Caminito

Tango!
Comemos em um restaurante ótimo, recepcionadas por um garçom que era a cara do Al Pacino, protagonista do filme Perfume de Mulher – no qual o ator faz a famosa cena de tango, só para informar.
Ficamos ao som de tango, tocado e cantado por músicos velhinhos e também com a apresentação de um casal. Apesar de não terem o mesmo envolvimento e drama que o outro, foi bom. Até tirei algumas fotinhas com o dançarino, fazendo poses bem sensuais haha.

sensualizando

al pacino em buenos aires!
Satisfeitas, fomos andar pela feirinha para comprar algumas coisas. Parei em uma banquinha de desenhos, todos retratando a cultura argentina em guache. O artista veio e se apresentou como Guillermo Alio, um ‘múltiplo’ que dançava tango e pintava com os pés ao mesmo tempo. Ele nos apresentou o ateliê dele, todo cheio de desenhos, tintas e muita arte.

Tive o prazer de conhecer um pouco mais sobre o trabalho dele pelo mundo através de recortes de revistas, nos quais mostram ele nos EUA e na Europa, divulgando sua arte que envolve o tango e muitas tintas. Comprei uma figura de Carlos Gardel, no qual ele fez uma homenagem desenhando os traços do cantor com animais, que descrevem um pouco sobre a carreira deste importante poeta argentino. No final, ele fez uma dedicatória, desenhando um casal dançando tango com o meu nome. Lindo!

Guillermo Lalio com o quadro que fez em homenagem a Vinícius de Moraes

toda honra e prazer de dar alguns paços desengonçados com ele!

E também, como não poderia perder, tiramos fotos dançando tango. Só que agora, com mais estilo, nas mãos de um verdadeiro artista! Foi um prazer!

Após este passeio maravilhoso, voltamos ao hostel e encontramos nosso amigo alemão Max. Em meio ao protesto, que já estava mais enfraquecido por conta do horário, fomos a uma churrascaria comer algo. Lugar onde a Tai percebeu o quanto a cultura argentina se encontra com a gaúcha. É como se estivéssemos no Rio Grande, mas com as pessoas falando outra língua. Curioso.

No final de um longo dia, bebemos algumas cervejas com um amigo argentino e batemos papo pelo hostel mesmo. Sem maiores ânimos de sair. Fomos dormir às 6 da manhã, sem perceber que no outro dia seria logo.

Hasta Luego!

Acordamos como doidas, para fazer o Check  Out, comer e ir direto para a rodoviária. Nem deu tempo de pensar que aquele era o último dia de uma jornada maravilhosa, cheia de saudades e de gostinho de quero mais.

Além de conhecer um belo lugar, pude matar a saudade dos meus dias na Europa, andando de hostel em hostel, conhecendo pessoas de diversas partes do mundo e trocando diferentes ideas, conquistando cada espaço por onde passei. Bom saber que este sonho não acabou e que ele mora bem ao meu lado, sempre!

free as a bird

Novo gás e novo ânimo! Que venham os próximos dias! ;)