Em meio à região dos pampas se encontra Buenos Aires, a
terra do Tango que muitos ‘gringos’ acham ser a capital do Brasil – falo muito
sério. Mas deixando informações históricas de lado, posso dizer com o coração
aberto que esta cidade me conquistou de todas as formas. Jamais imaginei que
encontraria tudo que mais gosto num só lugar – a arquitetura europeia com o
calor latino.
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carlos gardel - a voz da argentina |
Eu e uma amiga, a Taiane, chegamos de ônibus na rodoviária
Retiro. Depois de quase 18 horas de viagem de Porto Alegre (onde estou morando
agora, mas isso é uma outra história) através do FlechaBus. Super confortável,
com direito até a uma bandejinha de lanches – coisa que nem o avião da Gol
oferece!
Nossa primeira impressão foi o transporte público, como o
metrô, um dos mais antigos do mundo. E bota antigo nisso! Pelas condições, acho
que nunca recebeu uma reforma depois de pronto. Porém, a passagem era bem
barata, apenas $2,50. E como o real vale $3 pesos, deu para esbanjar não só com
isso, mas com muitas outras coisas.
Ficamos no hostel Terrazas Estoril e dividimos o quarto de
seis pessoas. Apesar do australiano (temos problemas com esta nacionalidade)
fedido que estava dormindo na mesma beliche que eu, o lugar é bem limpo e
organizado. Ele se localiza do alto de um prédio na Av. de Mayo, uma das
principais de Buenos Aires. De lá dá para se ter uma boa visão da cidade e
também, sem contar no preço que é bem em conta!
Primeiros passos, tempo, roupas e churrasco
O dia estava ensolarado com um vento gostoso – nada do que
pesquisei na previsão do tempo do Google. O traidor (e também a Nataly!) me fez
trazer muitas roupas de inverno, inclusive botas e um casacão que usava em dias
quase intensos. Sorte que tinha um micro short, próprio para usar com meias,
mas que me quebrou o galho até então.
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Rua próxima ao hostel |
Demos um ‘look around’ rápido pelas redondezas. Visitamos o
obelisco, andamos pela Av. 9 de Julio e tiramos algumas fotinhas sem maiores
produções. O lugar onde estávamos era bem no centrão, lugar onde tudo e mais um
pouco aconteceu. Os prédios, as calçadas e os monumentos escreviam em partes a
construção da ‘Europa na América Latina’. Simplesmente encantador!
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Vista do saguão do hostel |
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Uma salinha qualquer no saguão do hostel |
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Av. 9 de Julio com a imagem da Evita em destaque |
Depois desta pequena caminhada, voltamos para o hostel. À
noite eles ofereceram churrasco típico de lá, com ‘chorizo’, que seria um pão
com carne. A comida é boa, mas nada se compara ao brasileiro – claro!
Conhecemos algumas pessoas de várias partes do país, como
americanos, escoceses, alemães, entre outros. O bom disso é que pude
desenferrujar meu inglês, que já estava em desuso há tempos.
A noite acabou forrada de cerveja Quilmes e depois com a
minha bela e deliciosa Guinnes, em um pub Irish que tinha ao lado. Tudo bem
divertido!
Ressaca, tour, tango, mais roupas e micos
Apesar da ressaca, acordamos cedo para aproveitar o café da
manhã. Uma coisa simples, com ‘meia luna’ (uma espécia de croassant doce),
suco, manteiga e geléia. Tudo certo, se não fosse oferecido todos os santos
dias. Mas ok!
Um guia turístico passou para oferecer uma caminhada grátis
pela cidade. Topamos na hora e fizemos o mesmo trajeto que antes, mas com
direito a informações extras. Foi tudo bem interessante, pois percebi que a
população argentina faz questão de lembrar até pessoas que não tiveram grande
destaque nas revoluções, mas que fizeram parte de tais acontecimentos
históricos.
Visitamos a catedral onde o atual Papa Frascisco rezou por
muitas vezes. O engraçado é que o lugar se parece com tudo – um teatro, uma faculdade
ou até uma loja de departamentos de luxo, mas nunca uma catedral. E falando no
pontífice, sim! Tinha muitos cartazes, revistas, outdoors, etc, etc, etc, em
homenagem a ele. Mas como disse minha querida presidenta Dilma, ‘o papa é
argentino, mas deus é brasileiro’ ;)
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Catedral que parece com tudo, menos com uma catedral |
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No interior do antigo lugar onde o papa rezava missas |
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Olha o papa ai, gente! |
Depois de andar por alguns lugares, paramos na Casa Rosada,
que fica ao lado da Catedral. Lá é o Palácio do Governo, onde também é local de
diversos protestos – inclusive, neste mesmo dia vi uns dois pelas ruas. Depois
das histórias, a partir de lá a caminhada seria paga. E para quem ficar na
dúvida quando tiver na mesma situação, o meu conselho é que pague os 30 reais
que seja, pois vale muito a pena. Conhecemos boa parte da história nos lugares
reais, onde tudo aconteceu. Foi ótimo!
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casa rosada |
Fomos no museu onde funcionava o ‘escritório’ de Eva Perón.
Lá se encontra diversos recortes de jornais, revistas, livros, entre outras
coisas. O lugar pode não ter muitas coisas, mas dá para sentir um pouco da
energia do passado e de como esta mulher, ao lado do marido presidente,
mobilizou multidões em busca de mais igualdade social no país. Apesar das
controvérsias que existiam na minha cabeça, vi que em meio às circunstâncias, o
peronismo foi de extrema importância para a economia politica da Argentina. Não
é a toa que até hoje eles usam esta vertente como referência, antes de eleger
alguém para representa-los nos próximos anos.
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recortes de jornais da época |
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sede do partido peronista. Eu fui e participei! rs |
Visitamos os lugares onde imigrantes de várias
nacionalidades europeias se instalaram depois da primeira guerra mundial. Os
lugares eram tipo cortiços, que atualmente funcionam feirinhas de
quinquilharias e artesanatos. Tudo ok, até descobrirmos que foi onde o tango
nasceu, através de diversas culturas, movimentos e nacionalidades. Curioso
saber que aqueles passos milimétricamente dados foram inventados de um tudo
para se tornar tão perfeitos e cativantes.
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Sentindo o tango no ar |
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detalhe da pia de azulejos |
No final, fomos a um barzinho localizado não muito longe de
lá. Tomamos algumas canecas de cerveja e comemos um big lanche por poucos
pesos. Além disso, houve uma apresentação de tango com um casal que estava
dançando na praça, em frente ao bar. Fiquei impressionada com os movimentos e
até gravei um trechinho para publicar aqui. Só sei que no final fiquei toda
apaixonada pelo dançarino <3 p="">3>
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Ele sorriu pra mim! |
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Galerinha do tour! |
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rapaz tomando um sol |
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Moço vendendo coisinhas na pracinha |
Depois de tudo, fomos convidadas pelo guia para um lugar com
vinho, comidas típicas argentinas e tango. Fiquei bem empolgada, pois estava
doida para uma noite típica! Depois que chegamos no hostel, me produzi com
direito a muito luxo. Coloquei um vestido preto, com uma meia-calça da mesma
cor, além de um lenço de oncinha para completar o meu visu de ‘noite em um
restaurante chique’. Mas para o meu desespero, quando chegamos, vimos que o
lugar era uma escolinha de espanhol com grupinhos de alunos de várias
nacionalidades, vestidos praticamente com roupas de casa, churrasco, vinho
barato e voz com violão. Queria morrer...
Mas apesar do mico, conheci pessoas legais e me distrai com
a apresentação. Depois desta reuniãozinha, ganhamos uma ‘entrada’, que até
então era grátis, para uma casa de música latina. Apesar de não gostar muito do
estilo, decidi ir pelas pessoas. Chegando lá, vimos que o ‘passe-livre’ custava
$30 pesos que não tínhamos. Tivemos que ir embora sem dar tchau para ninguém e
decepcionadas com a noite. Mas valeu!
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ainda bem que meu modelito luxo não aparece tanto nesta foto... |
Ricolleta, flores, lojas e Nataly
O dia foi especial com a Nataly! Depois de alguns meses sem
vê-la, o encontro foi muito bom, obrigada! Tudo com direito a papos insanos e
muitas risadas.
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caminhadinha! |
Demos uma andada pela região Ricolleta. Lá sim tem muitas
roupas bacanas, diferente das outras partes que só oferecem ‘moda Machu Picchu’
nas lojas. Porém, como já estávamos quase no final da viagem, achei que seria
desperdício me preocupar com isso. Tive que me virar com as roupas que trouxe
na mala mesmo.
Passamos o dia no parque Rosedal. Apesar de estarmos no
outono, deu para tirar algumas fotinhas com flores em volta. Tudo tranquilo e
sereno.
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flores! |
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lago do parque |
À noite decidimos ir a um barzinho nas redondezas. Tomamos
cerveja através de um pote de suco. Delicioso! Mas a noite foi um pouco parada,
só com mesa, boa música e papos. Nada demais.
Caminito, Cores, Al Pacino, mais tango e Guillermo
Mais um dia de caminhada, com a diferença de que havia
multidões nas ruas. O dia era histórico, no qual comemorava 37 anos do fim do
golpe militar. Interessante ver o quanto a população argentina é realmente
envolvida com a política no país.
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Protestos pelas principais ruas de Buenos Aires |
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da janela do hostel. Manifestações a cada esquina |
As passeatas foram regadas com muita música, bandeiras,
gritos e protestos. Foi lindo ver a mobilização do povo numa data tão
importante, em memória dos que morreram pela pátria. Sim, nós brasileiros
deveríamos aprender mais com os hermanos.
Apesar das passeatas, decidimos completar nossa rota
turística. Sem querer desmerece-los, mas tínhamos pouco tempo para pesquisar
quais frentes acompanhar e também de conhecer tudo que estava acontecendo em
poucas horas. Tivemos que ir de acordo com o roteiro, que dava de encontro com
o Caminito.
Agora sim descobri porque o antigo barzinho de Cuiabá se
chamava Caminito. O lugar é uma região pobre de Buenos Aires, mas que possui
muita beleza, cultura e cores pelas ruas. Apesar dos cuidados que tivemos que
ter, tudo foi muito tranquilo e gostoso.
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Numa esquina do Caminito |
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Tango! |
Comemos em um restaurante ótimo, recepcionadas por um garçom
que era a cara do Al Pacino, protagonista do filme Perfume de Mulher – no qual
o ator faz a famosa cena de tango, só para informar.
Ficamos ao som de tango, tocado e cantado por músicos
velhinhos e também com a apresentação de um casal. Apesar de não terem o mesmo
envolvimento e drama que o outro, foi bom. Até tirei algumas fotinhas com o
dançarino, fazendo poses bem sensuais haha.
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sensualizando |
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al pacino em buenos aires! |
Satisfeitas, fomos andar pela feirinha para comprar algumas
coisas. Parei em uma banquinha de desenhos, todos retratando a cultura
argentina em guache. O artista veio e se apresentou como Guillermo Alio, um ‘múltiplo’
que dançava tango e pintava com os pés ao mesmo tempo. Ele nos apresentou o
ateliê dele, todo cheio de desenhos, tintas e muita arte.
Tive o prazer de conhecer um pouco mais sobre o trabalho
dele pelo mundo através de recortes de revistas, nos quais mostram ele nos EUA
e na Europa, divulgando sua arte que envolve o tango e muitas tintas. Comprei
uma figura de Carlos Gardel, no qual ele fez uma homenagem desenhando os traços
do cantor com animais, que descrevem um pouco sobre a carreira deste importante
poeta argentino. No final, ele fez uma dedicatória, desenhando um casal
dançando tango com o meu nome. Lindo!
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Guillermo Lalio com o quadro que fez em homenagem a Vinícius de Moraes |
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toda honra e prazer de dar alguns paços desengonçados com ele! |
E também, como não poderia perder, tiramos fotos dançando
tango. Só que agora, com mais estilo, nas mãos de um verdadeiro artista! Foi um
prazer!
Após este passeio maravilhoso, voltamos ao hostel e
encontramos nosso amigo alemão Max. Em meio ao protesto, que já estava mais
enfraquecido por conta do horário, fomos a uma churrascaria comer algo. Lugar
onde a Tai percebeu o quanto a cultura argentina se encontra com a gaúcha. É
como se estivéssemos no Rio Grande, mas com as pessoas falando outra língua.
Curioso.
No final de um longo dia, bebemos algumas cervejas com um
amigo argentino e batemos papo pelo hostel mesmo. Sem maiores ânimos de sair.
Fomos dormir às 6 da manhã, sem perceber que no outro dia seria logo.
Hasta Luego!
Acordamos como doidas, para fazer o Check Out, comer e ir direto para a rodoviária. Nem
deu tempo de pensar que aquele era o último dia de uma jornada maravilhosa,
cheia de saudades e de gostinho de quero mais.
Além de conhecer um belo lugar, pude matar a saudade dos
meus dias na Europa, andando de hostel em hostel, conhecendo pessoas de
diversas partes do mundo e trocando diferentes ideas, conquistando cada espaço
por onde passei. Bom saber que este sonho não acabou e que ele mora bem ao meu
lado, sempre!
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free as a bird |
Novo gás e novo ânimo! Que venham os próximos dias! ;)
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