domingo, 9 de junho de 2013

Carnaval em Olinda 2013 - "Casa da Brodagem"

Voltando à linha do tempo de viagens, uma das que mais me diverti em toda minha vida. Também pudera, era época de Carnaval! Impossível não sentir ao menos uma adrenalina forte no corpo. Ainda mais quando se passa em Olinda, cidade do Estado de Pernambuco, do meu querido e amado Brasil.

Tudo bem que já se passaram quatro meses desde que desci aquelas ladeiras efervescentes, lotadas de cores, confetes, música e alegria. Segundo os tempos primórdios, o Carnaval é uma época que se comemora a carne, a perdição. Concordo plenamente, e confesso que é um dos períodos mais libertadores que há, pois não precisamos seguir padrões estabelecidos por qualquer religião ou costume. As pessoas apenas se ‘montam’ e soltam os ‘demônios’ presos no corpo.

Mas sem mais demagogias e blas blas blas. O carnaval foi ótimo! Ainda mais porque pude dividi-lo com queridas amigas de Londres, a Natália Coimbra (vulgo ‘together’) e Lorena Aragão. Tudo lindo!

Chegada, Casa da Brodagem, bem servida!

Cheguei na noite de sexta-feira, dia 08 de fevereiro de 2013. Já tinham se passado quase dois dias de festas, perdidas por falta de previsão do futuro – na época da compra das passagens, estava trabalhando em dois empregos, mal sabia que iria me desligar de ambos neste período. Mas enfim, estava lá preparada para o que pudesse vir!

Ficamos na “Casa da Brodagem”. Uma casa de cor azul, com fitinhas coloridas na janela, localizada nas próprias ladeiras de Olinda. Acho que ela tinha ao menos uns 200 anos, pois até os tijolos eram feitos de barro artesanal da época. Ela era de uma arquitetura bem particular, com um longo corredor, dividido pelos quartos, cozinha e banheiro. Ao fundo, mais  uma longa área com árvores, quase da mesma extensão que a casa, com um maravilhoso chuveiro – que quebrou muito o galho da galera em muitas horas.

Eterna!
prontas para arrasar! hehe

Duas pessoas cuidavam de todos os afazeres da ‘Casa da Bordagem’. A querida Rose cuidava de toda logística de limpeza e comida (e que comida! Digamos de passagem), e o “Gordo” (não sei o nome real dele rsrs) fez a parte da segurança.  Havia mais de 20 pessoas hospedadas no local, cada uma de uma parte diferente do Brasil, além de ter uma italiana e um chileno na lista. Todos dormindo praticamente em cima um do outro. Mas apesar disso, foi tudo tranquilo e na santa paz!

Manguebeat, um pouco de cultura, perdi

Logo que cheguei, muitos estavam sujos de lama por conta da festa do Manguebeat que rolou na parte da tarde. Foram várias bandas de maracatu tocar e todos se sujaram com a lama em homenagem aos manguezais pernambucanos. Este foi uma das coisas que mais lamentei em perder.

perdi em me sujar!

Como muitos sabem, o Manguebeat é um movimento de contracultura criado que mistura ritmos musicais regionais como o maracatu, rock, hip hop e música eletrônica, e tem como frente bandas como do eterno Chico Science e Nação Zumbi, além de Mundo Livre S/A, Sheik Tosado, Mestre Ambrósio, entre outros. O que me restou foram somente fotos da diversão e nada mais. Bom, deixa para o próximo carnaval, né?

Segundo dia, doce moreninha cuiabana, bodei

Mas no meu segundo dia eu me garanti – dependendo do ponto de vista. Acordamos logo cedo, umas 8h da manhã – também pudera, quem não acordaria com o som dos trombones, cornetas e gritarias que vinham da rua, além de ter que me acomodar em um colchonete mais fino que meu dedo, ventilador no calor e um quarto com vinte pessoas? É... Mas este é o espírito!

Tomei um belo banho, me maquiei lindamente, vesti minha fantasia de ‘cuiabaninha’ que minha querida mãe confeccionou e subi as ladeiras. E cá entre nós, que subidas! Fomos direto ver o bloco “Sala de justiça”. Ficamos durante horas esperando de baixo do sol escaldante os cinco minutos de apresentação, no qual um ‘homem-aranha’ e um ‘bandido’ com uma metralhadora descem o prédio fazendo performances. Nada de diferente, nada de impressionante. No entanto, a criatividade estava em todas as esquinas de Olinda. Fantasias de diversos temas tomavam conta das ladeiras. Aproveitamos isso para tirarmos muitas fotos.

bloco 'sala da justiça'

doce moreninha cuiabana

sika e lorena

lindos foleões

wilsooooon

cade as gactas?

um beijinho no Fred

participação especial dos smurfs
aaah, o verão...

êta ladeira que castigou!
O sol estava escaldante, e eu, como novata, bebia minhas latinhas de cerveja sem me preocupar com o resto. Afinal, é carnaval, não é? Então... me compliquei. Cheguei em casa e me capotei no colchonete. Não conseguia erguer a cabeça de tanta desidratação. E para piorar, quando estava me arrumando pela manhã, passei protetor solar encobrindo uma blusa com manguinhas. Pensando no calor, resolvi troca-la por uma mais decotada. Porém, a esperta aqui esqueceu de passar o bendito protetor no decote, ou seja, fiquei marcada do colar, da blusa e de tudo – estas que se fazem presentes até hoje no meu corpo. Mas tudo bem, como disse: esse é o espírito! L

#chateada com a desidratação

receeeba


Mas a noite se garantiu. Apesar de eu estar acabada, com as pernas doendo e de ressaca, curti muito os shows em Recife antigo, no Marco Zero, como Zeca Baleiro, Otto, Armandinho, Elba Ramalho e muuuitos outros. Foi ótimo!

Terceiro dia, de cara, ressaca, Samba no mijo...

Este foi um dia ‘de cara’. Pelos traumas do anterior, resolvi beber muita água ao invés de álcool, porém, como boa bebedora que sou, não aproveitei do jeito que gosto. Mas deu para dar umas risadas.

Engraçado é que, apesar de não ter bebido, este é um dia que me lembro pouco. Mesmo vendo as fotos e tudo mais. Cheguei a conclusão que não foi tão bom quanto os outros, mas deu para se divertir. Lembro que fomos na parte de cima de Olinda e vimos muitos blocos passando por ali.

palhacinhas


Mas apesar de estar totalmente sóbria, tem o lado bom disso tudo. Não sei como começou, mas várias marchinhas foram criadas entre os nossos 'bródis' da casa. Como o "samba no mijo" (música que ficou durante dias na minha cabeça, confesso), e 'quem não tem pó, cheira loló", uma paródia de um instrumental clássico regional de Pernambuco. Enfim... doideras da cabeça de quem estava por lá.

Mais a noite fomos nas proximidades do Marco Zero para ver as manifestações religiosas ao som do Maracatu de raiz. As pessoas cantavam músicas em alguma língua africana com maior fervor. Houve também desfiles de pequenos grupos trajados com roupas do século XVIII pra menos, na época dos senhores de engenho ao lado da escravidão. A energia estava a mil de positividade! Foi muito bom poder presenciar a manifestação de uma cultura totalmente diferente da minha. Dançamos sem parar!

totalmente diferente do maracatu que conhecia

um pequeno registro

maracatu bom demais!
Quarto dia, bonecões, destruição

Pensando em ficar mais ‘alegre’, decidi adotar outros artifícios. Tive sucesso, mas as pessoas ficaram olhando para mim assustadas, pois não parava de rir um segundo. Mas aguentei o dia todo!

Vimos diversos blocos, que iam de marchinhas a maracatus. Cada bloco era puxada pela porta-bandeira, bandinha e os foliões. Como nos outros dias, víamos eles passar ou acompanhávamos por algumas quadras.
A Lorena sempre ficava atrás de mim, me cuidando, para caso de eu não fazer qualquer besteira por conta das loucuras de minha cabeça. Dei trabalho, mas me diverti! Hehe.

antes da folia começar
Bom, blocos vão, blocos vêm, mas e os bonecões? Cadê aqueles emblemáticos Bonecões de Olinda que via na televisão? Bom, amigos, quando menos esperei, eles apareceram. Juro... foi uma das coisas mais lindas que vi na vida! Eles são enormes e majestosos, de se encher os olhos. Fiquei parada durante algum tempo apreciando tudo aquilo. Meu coração quase explodiu de alegria.

lindos!

só alegria!

nossa, tava muito feliz nessa hora...
esse é o espírito!

oh, dó!
Logo depois fomos ver o bloco ‘Eu Acho é Pouco’, um dos maiores do Carnaval em Olinda. Foi um mar de gente que jamais pude imaginar tantas pessoas em um lugar só. Dançamos enlouquecidamente até não aguentarmos mais. Decidi ir um pouco mais cedo para casa e recarregar as energias para Recife. Mas revigorada com toda adrenalina da tarde.

E, para fechar com chave de ouro o Carnaval de 2013, meu ‘lindo’ Caetano Veloso. O show foi voz e violão, mas tão emocionante quanto uma banda inteira junta. Maravilhoso.

Adeus, até 2014

No dia do adeus, subimos pela última vez a ladeira de Olinda, mas desta vez para comermos as famosas tapiocas. Tiramos algumas fotos e demos um último abraço.

os sobreviventes
Foi uma das melhores comemorações que tive. Apesar de todo cansaço e da falta de experiência com o pique de carnaval, pretendo ir mais vezes e sentir toda aquela energia novamente.

Pessoas lindas, que mesmo sendo passageiras, ficam na boa memória de uma viajante. Percebi que esse Brasilzão tem muito a nos oferecer de belezas e suas grandes particularidades. Temos o privilégio de sermos o que somos e muitas vezes deixamos passar, como se fosse um detalhe insignificante. O que de fato não é. Mas mesmo assim, nessas horas de descoberta, nestes milhares de quilômetros que percorro, que lembro das lindas palavras musicais de Gonzaguinha e Luiz Gonzaga nos deixou: “Minha vida é andar por este país, para ver se um dia descanso feliz...”.

valeu, brodagem!