quinta-feira, 30 de julho de 2009

Van Gogh

Há 119 anos adormecia eternamente um dos pintores mais conceituados de todos os tempos da era pós-impressionista. Seu nome: Vincent Willem Van Gogh, ou simplesemente Van Gogh. Seu jeito único de pintar, com traços aleatórios de cores ofuscantes mescladas com cores mortas, revolucionou o mundo da arte no início do século 20. Mesmo com todo esse talento, Vicent van Gogh teve a sua vida marcada por fracassos em todos os âmbitos, tanto profissional como pessoal, tendo o trabalho reconhecido somente após a sua morte, deixando de herança à cultura a arte de pincelar sentimentos.

Nascido em Zundert, uma cidade próxima a Breda, na província de Brabante do Norte, nos Países Baixos, Vicent Van Gogh era filho de Theodorus, um pastor da Igreja Reformada Neerlandesa, e de Anna Cornelia Carbentus. Recebeu o mesmo nome de seu avô paterno e também daquele que seria o primogênito da família, morto antes mesmo de nascer exatamente um ano antes de seu nascimento. Especula-se que este fato tenha influenciado profundamente certos aspectos de sua personalidade, e que determinadas características de sua pintura (como a utilização de pares de figuras masculinas) tenham sido motivadas por isso. Ao todo, Vincent teve dois irmãos: Theodorus, apelidado de Theo, e Cornelius, e mais três irmãs: Elisabeth, Anna e Willemina.

Vincent era uma criança séria, quieta e introspectiva. Desenvolveu através dos anos uma grande amizade e forte ligação com seu irmão mais novo, Theo. Por influência do tio, aos 16 anos resolveu se mudar de casa para trabalhar como comerciante de artes. Sua vida então começou a se direcionar a assuntos religiosos, sendo demitido de seu emprego. Retornando à Inglaterra, tentou estudar Teologia e trabalhar voluntariamente em uma livraria, mas novamente encontrou o fracasso.

A Arte

Por influência de seu irmão Theodoro, Van Gogh começou a levar a pintura mais a sério. Em 1883, mudou-se para Nuenen (Holanda), onde se dedicou à pintura. Lá se apaixonou pela filha de uma vizinha, Margot Begemann. Decidiram se casar, mas suas famílias não aceitaram o casamento, o que fez com que Margot tentasse o suicídio.

Em 1885, o pai de Van Gogh morreu de infarte. Neste mesmo ano ele pintou aquela que é considerada a sua primeira grande obra: Os Comedores de Batata.

Em 1886, o pintor muda-se para Paris com seu irmão Theo. Por alguns meses, Vincent trabalhou no Estúdio Cormon, onde conheceu os artistas John Peter Russell, Émile Bernard e Henri de Toulouse-Lautrec, entre outros. Este último, alcóolatra, apresenta Van Gogh ao absinto, bebida popular da ocasião, que viria a ser muito consumida pelo pintor, que a retratou em Natureza Morta com Absinto.

Naquela época, o impressionismo tomava conta das galerias de arte de Paris, mas Van Gogh tinha problemas em assimilar esse novo conceito de pintura. Vincent começou o uso da técnica do pontilhismo, inspirados no pintor Georges Seurat. A partir de sua estada em Paris, Van Gogh abandona sua temática sombria e obscura de camponeses e suas obras recebem tons mais claros. São desta época os quadros Mulher Sentada no Café du Tambourin, A ponte Grande Jatte sobre o Sena, Quatro Girassóis, os Retratos de Père Tanguy, entre outros.

Muda-se para o interior da França com o amigo, também pintor, Gauguin. Apesar da admiração mútua entre os artistas, os dois tinham “incompatibilidade de temperamentos”, como o próprio amigo afirmava. Gauguin sentia-se incomodado com as variações de humor de Vincent, o que complicava ainda mais o relacionamento entre eles.

Um dos fatos que marcou também a personalidade de Van Gogh foi a loucura. Após a saída de Gauguin para uma caminhada, Van Gogh o segue e o surpreende com uma navalha aberta. Gauguin se assusta e decide pernoitar em uma pensão. Transtornado e com remorso pelo feito, Vincent corta um pedaço de sua orelha direita, embrulha-a em um lenço e leva, como presente, a uma prostituta. Vincent retorna à sua casa e deita-se para dormir como se nada tivesse acontecido. A polícia é avisada e encontra-o sem sentidos e ensanguentado. O artista é encaminhado ao hospital da cidade imediatamente.

Com a mudança psicológica, o estilo de pintura acompanhou esta fusão e Van Gogh trocou o pontilhado por pequenas pinceladas.

O artista começa a ter paranoias, imagina que lhe querem envenenar. Os cidadãos de Arles, apreensivos, solicitam seu internamento definitivo. Sendo assim, Van Gogh passa a viver no hospital de Arles como paciente e preso.

Abandonado pelo seu amigo Gauguin e rejeitado pelos cidadãos de Arles, Van Gogh se apega ainda mais ao irmão que estava para casar, deixando-o levar a uma depressão profunda de abandono. Em 1889, aos 36 anos, pediu para ser internado no hospital psiquiátrico em Saint-Paul-de-Mausole. A região do asilo possuía muitas searas de trigo, vinhas e olivais, que transformaram-se na principal fonte de inspiração para os quadros seguintes, que marcaram nova mudança de estilo: as pequenas pinceladas evoluíram para curvas espiraladas. Esta foi a época mais produtiva do artista, que pintava praticamente um quadro ao dia, sendo um deles inspirado no próprio médico que o consultara, a tela conhecida como Retrato do Doutor Gachet, que o mesmo não encontrou sucesso no estado de espírito do paciente.

Entretanto, a depressão agravou-se, e a 27 de julho de 1890, depois de semanas de intensa atividade criativa, Van Gogh dirige-se ao campo onde disparou um tiro contra o peito. Arrastou-se de volta à pensão onde se instalara e onde morreu dois dias depois, nos braços de seu irmão Theo. As suas últimas palavras, dirigidas a Theo, teriam sido: "La tristesse durera toujours" (em francês, "A tristeza durará para sempre").
Obs: Matéria de minha autoria que saiu hoje no Folha 3 da Folha do Estado.

quarta-feira, 29 de julho de 2009

Beirut

Não quero que vocês leiam nada, apenas ouçam.

segunda-feira, 27 de julho de 2009

Primeiros passos, e olho pra cima. O prédio é alto, feito com tijolos e cheio de janelinhas. Observo algumas pessoas na frente. Devem estar falando das férias, do saco de ser segunda-feira, ou daquela menina ou menino que acabou de observar. Entro pela porta grande de madeira, empurrada pelo porteiro que nem ao menos sei o nome, que simplesmente dou "Boa Tarde" todos os dias que o vejo. Ao entrar no local, sinto uma certa angústia, solidão e medo de encarar as coisas novas. Descobri que estas coisas novas não me agradam tanto, mas confeço que suplico por elas. Vou seguindo a rampa que está no lugar das escadas, o que torna a subida mais cansativa. Entro na modesta biblioteca com portas de vidros e observo muitas pessoas conversando nas mesas. Perai! Isso é uma biblioteca! Existem vários cartazes pedindo silêncio. Mas isso não importava pra ninguém na hora. Sento em uma dessas mesas, sozinha. Abro minha bolsa nova que comprei pela manhã, e sinto aquele cheio de tecido novo. Abro o meu estojo, e encontro os mesmos lápis e canetas do semestre que passou. Nessa hora, dei um sorriso, e comecei a sentir um Dèja Vu na minha cabeça... Realmente aquilo já tinha acontecido várias vezes, mas não me lembro específicamente como. De repente, um barulho, era o sinal, parecido com um carro de bombeiro, só que numa velocidade bem mais rápida. A tensão. Senti como se eu nunca tivesse pisado naquele lugar, como se aquilo tudo fosse novo para mim. Oras, Simone, você já tem 21 anos! Vamos! O seu papel aqui é se comunicar, até que alguém prove ao contrário. Tudo bem, tudo bem. Me levanto calmamente, e sigo pela porta de vidro que havia entrado a pouco tempo. Pensa, pensa, qual era a sala mesmo que a mulher do telefone falou? Ah, sala 07. Esta, ao lado da sala dos professores. Hm... as carteiras são novas. Não têm mais estofado azul, agora é o vermelho. Se bem que os azuis deixam o ambiente mais amêno na sala. Mas o vermelho está bom. Sento na sétima cadeira que olho. Acho que aqui está bom, é um lugar mais centralizado, dá para conversar com várias pessoas da sala, me enturmar. Preciso estar atenta aos nerds, estes sim são precisos em lugares mais próximos. Começam a entrar os alunos. São todos bem mais novos que eu, acho que uns seis, sete ou mais anos. Alguns aparentam ser mais velhos, outros mais novos. Há um japonês logo ali. Hm... confio em orientais do sexo masculino. Por que as do sexo feminino não são tão espertas assim, e eu sou prova viva disso. Ah, conheço uma aluna aqui. Que bom, assim não fico tão acanhada. Entra a professora. Ela é ruiva, loira, não me lembro bem. Ah, não é estrangeira. Ainda bem. Sempre me perco com o sotaque destes professores importados. A aula corre muito bem. Apredi formas e verbos novos. Alguns são meio complicados, difícieis de entender, que eu tenho certeza que eu nunca vou usar. Toca novamente aquele sinal escandaloso. Saio da sala com uma sensação estranha novamente. Eu já tinha visto isso tudo, e sentido a mesma coisa. Entro no carro, conecto a chave, paro e penso. Sim, entendo este dia. Este é mais um dia pra minha vida inteira.

02/02/1993 - Primeiro dia da minha vida inteira.

domingo, 26 de julho de 2009

A Decadência

Isso vai ter importância daqui há 100 anos? Acho que não. Ainda mais você que pensa aos montes em um mundo melhor. Você não passa de uma pessoa sonhadora que pensa em revolucionar o convencional com seus estilos alternativos. Não creia que um dia sua vida vai ser plena e feliz desta forma.

Conheça as pessoas, cumprimente-as, seja gentil com todas, talvez isso possa lhe ajudar mais pra frente em algo empreendedor. Não é ser interesseiro, mas sim, algo necessário. Pare com essa de não fazer questão das pessoas, nem tudo você pode decidir em seu comportamento. São coisas naturais da vida. Aprenda com isso.

Reze, minha filha. Vá à igreja, confesse à Deus, perante ao padre, todos os seus pecados. Sabia que até o que você pensa é pecaminoso? Imaginar pessoas nuas, situações constrangedoras e muito interessantes, desejos de querer matar ou esmagar o cérebro de alguém com o martelo. As ideias da igreja são totalmente compatíveis ao interesse público, incluindo o seu. Então, para que questionar? Simplesmente siga.

Você está bem gorda, não? Que tal um regime? Pare de comer depois das 18h, e só tome água a partir daí. Tome estes remédios, quem sabe ele te dão um resultado mais rápido. Por que ninguém merece ficar horas na academia suando, não é?! Caminhe todos os dias no final da tarde, não esqueça de levar o cachorro para passear junto. Tudo bem que ele defeca bastante pelas ruas, mas quem se importa?
Que músicas são estas? Que gosto esquisito seu, gostar de músicas que ninguém conhece. Ouça as dez mais nas paradas musicais, isso sim que é arte, e não estes montes de berros e sons psicodélicos no meio. Não insista em ser diferente. Por isso que você não se sente bem na maioria dos lugares da cidade ou de qualquer outro plano.
Olha esta novela. As atrizes são lindas e se vestem bem, diferente de você, que sente dificuldades em achar algo que lhe agrade. Tome estas bijouterias, você atravessa na cabeça assim, sai pela orelha e gruda no nariz. É meio complicado de colocar, mas está na moda, isto que importa.

Olha o seu quarto! Que bagunça! E esta louça? Você não sabe cozinhar, mas em compensação faz uma sujeira! Como que vai ser quando você se casar e ter filhos?! Não quer casar e ter filhos? Bobagem! Todo mundo tem este sonho, e você não pode fugir das normalidades da vida.

Leia estes livros espíritas, assista a estes vídeos de palestras, são emocionantes. Vamos à reunião espírita? Tome este chá, ele te dá umas visões bem interessantes sobre a vida. Não, não, ele não é alucinógeno, é feito da planta divina, bem distante de produtos deste gênero.

Pra que está angústia? Você tem tudo! Tudo que milhares de pessoas desejariam ter. Pra que escreves isto nesta página sem sentido? Pra que o desabafo dessa forma? Saia, saia! Não pense que deste jeito os seus problemas fugirão entre os seus dedos. Pare de escrever!

segunda-feira, 20 de julho de 2009

Minha Amada Imortal


O ano era 2004. Como passei praticamente a minha vida inteira estudando em colégios de padre, tive um contato mais profundo com a igreja católica (juro!), e nisso, participava sempre de encontros religiosos promovidos pela igreja do meu colégio.

Eu sempre tive fama de dorminhoca, durmo em qualquer lugar e em qualquer hora (menos nas madrugadas em casa - insônia), ainda mais em palestras, e ainda mais palestras que ficam falando que Jesus é amor, Jesus é vida e virgindade é a alma do negócio, sinceramente acho isso tudo um saco. Mas em um desses encontros, ocorrido em Campo Grande - MS, vi a palestra de um padre que eu nem me lembro mais o nome da onde ele veio e do que ele falava, só sei que este momento me chamou a atenção pelo simples fato dele ter posto uma cena deste filme... Minha Amada Imortal.

Este filme conta parte da história de Ludwin van Beethoven, ou só Beethoven. Era um compositor erudito e ainda por cima alemão - só para focar que os caras fodas e inteligentes em sua grande maioria eram e são alemães, mas não é só por isso, é também o fato que apesar de ele ser um compositor extraordinário, ele era surdo. É difícil associar essas duas coisas não contraditórias. Talvez seria a mesma coisa que um fabricante de perfume não ter olfato, ou um cantor ser mudo, ou um dentista sem as mãos (não é uma má idéia!), enfim... Mas ele tinha o seu diferencial.

Em vida, Beethoven compôs grandes óperas, sonetos e concertos em geral. Sentia a música na alma, calculava minuciosamente cada instrumento em sua cabeça, e foi capaz de compor músicas inesquecíveis e imortais. Quem aqui nunca ouviu Sinfonia nº9, que atire a primeira pedra, obrigado.

Mas a música que me deixa extasiada é o Sonata ao Luar. No filme, Beethoven (interpretado por Gary Oldman) começa a tocar esta música no piano, como não podia ouvir o que estava tocando, tentou encostar seu ouvido no instrumento para sentir as vibrações que ele dava em cada dedilhada. Esta cena é simplesmente fascinante.

Cena do filme Minha Amada Imortal (1994)


Tudo isso é para que vocês confiram este filme. Ele não merecia um Oscar e nem um Globo de Ouro como melhor filme do ano, quanto mais do século, mas assistam somente para ver esta cena... Posso garantir que é apaixonante.