Voltando à linha do tempo de viagens, uma das que mais me
diverti em toda minha vida. Também pudera, era época de Carnaval! Impossível
não sentir ao menos uma adrenalina forte no corpo. Ainda mais quando se passa
em Olinda, cidade do Estado de Pernambuco, do meu querido e amado Brasil.
Tudo bem que já se passaram quatro meses desde que desci
aquelas ladeiras efervescentes, lotadas de cores, confetes, música e alegria.
Segundo os tempos primórdios, o Carnaval é uma época que se comemora a carne, a
perdição. Concordo plenamente, e confesso que é um dos períodos mais
libertadores que há, pois não precisamos seguir padrões estabelecidos por
qualquer religião ou costume. As pessoas apenas se ‘montam’ e soltam os
‘demônios’ presos no corpo.
Mas sem mais demagogias e blas blas blas. O carnaval foi
ótimo! Ainda mais porque pude dividi-lo com queridas amigas de Londres, a Natália
Coimbra (vulgo ‘together’) e Lorena Aragão. Tudo lindo!
Chegada, Casa da Brodagem, bem servida!
Cheguei na noite de sexta-feira, dia 08 de fevereiro de
2013. Já tinham se passado quase dois dias de festas, perdidas por falta de
previsão do futuro – na época da compra das passagens, estava trabalhando em
dois empregos, mal sabia que iria me desligar de ambos neste período. Mas
enfim, estava lá preparada para o que pudesse vir!
Ficamos na “Casa da Brodagem”. Uma casa de cor azul, com fitinhas coloridas na janela, localizada
nas próprias ladeiras de Olinda. Acho que ela tinha ao menos uns 200 anos, pois
até os tijolos eram feitos de barro artesanal da época. Ela era de uma
arquitetura bem particular, com um longo corredor, dividido pelos quartos,
cozinha e banheiro. Ao fundo, mais uma
longa área com árvores, quase da mesma extensão que a casa, com um maravilhoso
chuveiro – que quebrou muito o galho da galera em muitas horas.
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Eterna! |
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prontas para arrasar! hehe |
Duas pessoas cuidavam de todos os afazeres da ‘Casa da
Bordagem’. A querida Rose cuidava de toda logística de limpeza e comida (e que
comida! Digamos de passagem), e o “Gordo” (não sei o nome real dele rsrs) fez a
parte da segurança. Havia mais de 20
pessoas hospedadas no local, cada uma de uma parte diferente do Brasil, além de
ter uma italiana e um chileno na lista. Todos dormindo praticamente em cima um
do outro. Mas apesar disso, foi tudo tranquilo e na santa paz!
Manguebeat, um pouco de cultura, perdi
Logo que cheguei, muitos estavam sujos de lama por conta da
festa do Manguebeat que rolou na parte da tarde. Foram várias bandas de
maracatu tocar e todos se sujaram com a lama em homenagem aos manguezais
pernambucanos. Este foi uma das coisas que mais lamentei em perder.
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perdi em me sujar! |
Como muitos sabem, o Manguebeat é um movimento de
contracultura criado que mistura ritmos musicais regionais como o maracatu, rock,
hip hop e música eletrônica, e tem como frente bandas como do eterno Chico
Science e Nação Zumbi, além de Mundo Livre S/A, Sheik Tosado, Mestre Ambrósio,
entre outros. O que me restou foram somente fotos da diversão e nada mais. Bom,
deixa para o próximo carnaval, né?
Segundo dia, doce moreninha cuiabana, bodei
Mas no meu segundo dia eu me garanti – dependendo do ponto
de vista. Acordamos logo cedo, umas 8h da manhã – também pudera, quem não
acordaria com o som dos trombones, cornetas e gritarias que vinham da rua, além
de ter que me acomodar em um colchonete mais fino que meu dedo, ventilador no
calor e um quarto com vinte pessoas? É... Mas este é o espírito!
Tomei um belo banho, me maquiei lindamente, vesti minha
fantasia de ‘cuiabaninha’ que minha querida mãe confeccionou e subi as
ladeiras. E cá entre nós, que subidas! Fomos direto ver o bloco “Sala de
justiça”. Ficamos durante horas esperando de baixo do sol escaldante os cinco
minutos de apresentação, no qual um ‘homem-aranha’ e um ‘bandido’ com uma
metralhadora descem o prédio fazendo performances. Nada de diferente, nada de
impressionante. No entanto, a criatividade estava em todas as esquinas de
Olinda. Fantasias de diversos temas tomavam conta das ladeiras. Aproveitamos
isso para tirarmos muitas fotos.
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bloco 'sala da justiça' |
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doce moreninha cuiabana |
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sika e lorena |
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lindos foleões |
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wilsooooon |
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cade as gactas? |
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um beijinho no Fred |
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participação especial dos smurfs |
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aaah, o verão... |
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êta ladeira que castigou! |
O sol estava escaldante, e eu, como novata, bebia minhas
latinhas de cerveja sem me preocupar com o resto. Afinal, é carnaval, não é?
Então... me compliquei. Cheguei em casa e me capotei no colchonete. Não
conseguia erguer a cabeça de tanta desidratação. E para piorar, quando estava
me arrumando pela manhã, passei protetor solar encobrindo uma blusa com
manguinhas. Pensando no calor, resolvi troca-la por uma mais decotada. Porém, a
esperta aqui esqueceu de passar o bendito protetor no decote, ou seja, fiquei marcada
do colar, da blusa e de tudo – estas que se fazem presentes até hoje no meu
corpo. Mas tudo bem, como disse: esse é o espírito! L
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#chateada com a desidratação |
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receeeba |
Mas a noite se garantiu. Apesar de eu estar acabada, com as
pernas doendo e de ressaca, curti muito os shows em Recife antigo, no Marco
Zero, como Zeca Baleiro, Otto, Armandinho, Elba Ramalho e muuuitos outros. Foi
ótimo!
Terceiro dia, de cara, ressaca, Samba no mijo...
Este foi um dia ‘de cara’. Pelos traumas do anterior,
resolvi beber muita água ao invés de álcool, porém, como boa bebedora que sou,
não aproveitei do jeito que gosto. Mas deu para dar umas risadas.
Engraçado é que, apesar de não ter bebido, este é um dia que
me lembro pouco. Mesmo vendo as fotos e tudo mais. Cheguei a conclusão que não foi tão bom quanto os outros, mas deu para se divertir. Lembro que
fomos na parte de cima de Olinda e vimos muitos blocos passando por ali.
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palhacinhas |
Mas apesar de estar totalmente sóbria, tem o lado bom disso tudo. Não sei como começou, mas várias marchinhas foram criadas entre os nossos 'bródis' da casa. Como o "samba no mijo" (música que ficou durante dias na minha cabeça, confesso), e 'quem não tem pó, cheira loló", uma paródia de um instrumental clássico regional de Pernambuco. Enfim... doideras da cabeça de quem estava por lá.
Mais a noite fomos nas proximidades do
Marco Zero para ver as manifestações religiosas ao som do Maracatu de raiz. As pessoas
cantavam músicas em alguma língua africana com maior fervor. Houve também
desfiles de pequenos grupos trajados com roupas do século XVIII pra menos, na
época dos senhores de engenho ao lado da escravidão. A energia estava a mil de
positividade! Foi muito bom poder presenciar a manifestação de uma cultura
totalmente diferente da minha. Dançamos sem parar!
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totalmente diferente do maracatu que conhecia |
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um pequeno registro |
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maracatu bom demais! |
Quarto dia, bonecões, destruição
Pensando em ficar mais ‘alegre’, decidi adotar outros
artifícios. Tive sucesso, mas as pessoas ficaram olhando para mim assustadas,
pois não parava de rir um segundo. Mas aguentei o dia todo!
Vimos diversos blocos, que iam de marchinhas a maracatus.
Cada bloco era puxada pela porta-bandeira, bandinha e os foliões. Como nos
outros dias, víamos eles passar ou acompanhávamos por algumas quadras.
A Lorena sempre ficava atrás de mim, me cuidando, para caso
de eu não fazer qualquer besteira por conta das loucuras de minha cabeça. Dei
trabalho, mas me diverti! Hehe.
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antes da folia começar |
Bom, blocos vão, blocos vêm, mas e os bonecões? Cadê aqueles
emblemáticos Bonecões de Olinda que via na televisão? Bom, amigos, quando menos
esperei, eles apareceram. Juro... foi uma das coisas mais lindas que vi na
vida! Eles são enormes e majestosos, de se encher os olhos. Fiquei parada
durante algum tempo apreciando tudo aquilo. Meu coração quase explodiu de
alegria.
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lindos! |
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só alegria! |
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nossa, tava muito feliz nessa hora... |
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esse é o espírito! |
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oh, dó! |
Logo depois fomos ver o bloco ‘Eu Acho é Pouco’, um dos
maiores do Carnaval em Olinda. Foi um mar de gente que jamais pude imaginar
tantas pessoas em um lugar só. Dançamos enlouquecidamente até não aguentarmos
mais. Decidi ir um pouco mais cedo para casa e recarregar as energias para
Recife. Mas revigorada com toda adrenalina da tarde.
E, para fechar com chave de ouro o Carnaval de 2013, meu
‘lindo’ Caetano Veloso. O show foi voz e violão, mas tão emocionante quanto uma
banda inteira junta. Maravilhoso.
Adeus, até 2014
No dia do adeus, subimos pela última vez a ladeira de
Olinda, mas desta vez para comermos as famosas tapiocas. Tiramos algumas fotos
e demos um último abraço.
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os sobreviventes |
Foi uma das melhores comemorações que tive. Apesar de todo
cansaço e da falta de experiência com o pique de carnaval, pretendo ir mais
vezes e sentir toda aquela energia novamente.
Pessoas lindas, que mesmo sendo passageiras, ficam na boa
memória de uma viajante. Percebi que esse Brasilzão tem muito a nos oferecer de
belezas e suas grandes particularidades. Temos o privilégio de sermos o que
somos e muitas vezes deixamos passar, como se fosse um detalhe insignificante. O que de fato não é. Mas mesmo assim, nessas horas de descoberta, nestes milhares de quilômetros que percorro, que lembro das
lindas palavras musicais de Gonzaguinha e Luiz Gonzaga nos deixou: “Minha vida
é andar por este país, para ver se um dia descanso feliz...”.
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valeu, brodagem! |