segunda-feira, 8 de julho de 2013

Primavera de 2013 - O dia em que o 'gigante acordou'

“Apesar de chamar atenção em vários dos meus comentários, procuro não polemizar demais, de verdade. Muitas vezes me dá preguiça de discutir e defender minha opinião. Não por arrogância, longe de mim. Mas é que é muito complicado discutir com quem só se baseia em argumentos supérfluos, repetidos por bocas malditas que não deveriam nem ter o trabalho de serem abertas”

Deixando estas observações de lado, mas com um grande destaque, quero deixar um pouco registrado o que presenciei nesta primavera de 2013, mais precisamente em meados do mês de junho. Época em que o “gigante acordou” e o povo finalmente desabafou o grito entalado na garganta, que só se ouvia nos becos mais escuros da tão falada e sonhada ‘democracia’.



Como alguns sabem, estou morando em Porto Alegre. Depois destes acontecimentos, percebi que nada nesse mundo é por acaso. Acho que deveria estar onde estou. Não desmerecendo minha Cuiabá, que soube representar muito bem o grito surdo que todos mereciam. Mas é que o sul do Brasil é fruto de muitas lutas e de seres emblemáticos, que bem ou mal, ajudaram a escrever a história do país de uma forma mais marcante.



Aqui em PoA, a onda de protestos se resumiu entre segundas e quintas-feiras do mês. Muitas vezes enfrentamos chuvas, frio, ventos fortes, mas nada desanimava o povo gaúcho de seguir a caminhada, gritando forte a sua ânsia do repúdio à política e ao sistema instalado no Brasil.

O diferencial de Porto Alegre é que a luta segue desde março deste ano, quando o atual prefeito José Fortunati deliberou aumentar o preço das passagens de R$2,85 para R$3,20. Centavos que fazem muita diferença no bolso de grande parte dos trabalhadores. Digo isso por mim, que nos primeiros meses vi o que é a dor de ser uma proletariada que planeja todo o salário somente para pagar as contas, sem pensar e nem ao menos pronunciar a palavra ‘luxo’ nessa vida.

O grito da população se multiplicou após os protestos pelo mesmo motivo em São Paulo, quando muitos jornalistas e manifestantes foram alvos intolerantes da polícia, que espalhou gases de efeito moral, balas de borracha e sprays de pimenta contra aqueles que lutavam, possivelmente, pela qualidade de vida dos parentes de quem se propôs a violência daquela forma.



Os protestos foram além da melhoria do transporte público da maior cidade da América Latina, que não lutavam ‘apenas pelos R$0,20 (vinte centavos)’. Os gritos se resumiam em um conjunto de problemas fatais que o país estava passando no momento, como a PEC 37, uma emenda constitucional na qual dava impunidade a todos os políticos acusados de corrupção. O pedido de renuncia do atual presidente da Comissão de Direitos Humanos e Minorias, pastor Marco Feliciano (PSC) – que, diga-se de passagem, um dos fatos mais contraditórios na política brasileira. O fim dos desvios de dinheiro público, feitos durante as obras da tão esperada Copa do Mundo de 2014. Entre outros tantos fatos que estremeceram a ira mais profunda do povo brasileiro.



Fui em praticamente todos os protestos de Porto Alegre e participei de assembleias que discutiam os temas acima com mais fervor. Enfrentei as dificuldades do tempo, as longas caminhadas, os gases lacrimogênio – estes que invadiram todo o meu ser, uma vez -, bombas, tiros, momentos perdidos e aflitos, etc, etc , etc. Apesar de tudo isso, a luta foi muito válida. Foi lindo ver o povo reunido, lutando juntos por uma causa nobre. Sentindo orgulho por serem o que são não por um futebol, que se passava nos televisores de todo mundo simultaneamente com os atos históricos nas ruas. Mas por se assumirem e honrarem a bandeira que tem e lutarem por um país mais justo e fazerem jus às riquezas que produz.





Esse é um Brasil que sonhei desde que me entendo por gente e comecei a estudar História na escola. E assim vamos escrever um novo fim nessas linhas infinitas, demarcadas por muita dor e injustiças, mas também definidas por muitas glórias e vitórias, conquistada com muito suor e sangue por quem anseia por um país melhor. Que assim seja sempre!

Fotos: Simone Ishizuka

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