“Apesar de chamar atenção em vários dos meus comentários,
procuro não polemizar demais, de verdade. Muitas vezes me dá preguiça de
discutir e defender minha opinião. Não por arrogância, longe de mim. Mas é que
é muito complicado discutir com quem só se baseia em argumentos supérfluos,
repetidos por bocas malditas que não deveriam nem ter o trabalho de serem
abertas”
Deixando estas observações de lado, mas com um grande
destaque, quero deixar um pouco registrado o que presenciei nesta primavera de
2013, mais precisamente em meados do mês de junho. Época em que o “gigante
acordou” e o povo finalmente desabafou o grito entalado na garganta, que só se
ouvia nos becos mais escuros da tão falada e sonhada ‘democracia’.
Como alguns sabem, estou morando em Porto Alegre. Depois
destes acontecimentos, percebi que nada nesse mundo é por acaso. Acho que
deveria estar onde estou. Não desmerecendo minha Cuiabá, que soube representar
muito bem o grito surdo que todos mereciam. Mas é que o sul do Brasil é fruto
de muitas lutas e de seres emblemáticos, que bem ou mal, ajudaram a escrever a
história do país de uma forma mais marcante.
Aqui em PoA, a onda de protestos se resumiu entre segundas e
quintas-feiras do mês. Muitas vezes enfrentamos chuvas, frio, ventos fortes,
mas nada desanimava o povo gaúcho de seguir a caminhada, gritando forte a sua
ânsia do repúdio à política e ao sistema instalado no Brasil.
O diferencial de Porto Alegre é que a luta segue desde março
deste ano, quando o atual prefeito José Fortunati deliberou aumentar o preço
das passagens de R$2,85 para R$3,20. Centavos que fazem muita diferença no
bolso de grande parte dos trabalhadores. Digo isso por mim, que nos primeiros
meses vi o que é a dor de ser uma proletariada que planeja todo o salário
somente para pagar as contas, sem pensar e nem ao menos pronunciar a palavra ‘luxo’
nessa vida.
O grito da população se multiplicou após os protestos pelo
mesmo motivo em São Paulo, quando muitos jornalistas e manifestantes foram
alvos intolerantes da polícia, que espalhou gases de efeito moral, balas de
borracha e sprays de pimenta contra aqueles que lutavam, possivelmente, pela
qualidade de vida dos parentes de quem se propôs a violência daquela forma.
Os protestos foram além da melhoria do transporte público da
maior cidade da América Latina, que não lutavam ‘apenas pelos R$0,20 (vinte
centavos)’. Os gritos se resumiam em um conjunto de problemas fatais que o país
estava passando no momento, como a PEC 37, uma emenda constitucional na qual
dava impunidade a todos os políticos acusados de corrupção. O pedido de
renuncia do atual presidente da Comissão de Direitos Humanos e Minorias, pastor
Marco Feliciano (PSC) – que, diga-se de passagem, um dos fatos mais
contraditórios na política brasileira. O fim dos desvios de dinheiro público,
feitos durante as obras da tão esperada Copa do Mundo de 2014. Entre outros
tantos fatos que estremeceram a ira mais profunda do povo brasileiro.
Fui em praticamente todos os protestos de Porto Alegre e
participei de assembleias que discutiam os temas acima com mais fervor.
Enfrentei as dificuldades do tempo, as longas caminhadas, os gases lacrimogênio
– estes que invadiram todo o meu ser, uma vez -, bombas, tiros, momentos perdidos
e aflitos, etc, etc , etc. Apesar de tudo isso, a luta foi muito válida. Foi
lindo ver o povo reunido, lutando juntos por uma causa nobre. Sentindo orgulho
por serem o que são não por um futebol, que se passava nos televisores de todo
mundo simultaneamente com os atos históricos nas ruas. Mas por se assumirem e
honrarem a bandeira que tem e
lutarem por um país mais justo e fazerem jus às riquezas que produz.
Esse é um Brasil que sonhei desde que me entendo por gente e
comecei a estudar História na escola. E assim vamos escrever um novo fim nessas
linhas infinitas, demarcadas por muita dor e injustiças, mas
também definidas por muitas glórias e vitórias, conquistada com muito suor e
sangue por quem anseia por um país melhor. Que assim seja sempre!
Fotos: Simone Ishizuka